Revisão Científica: Dra. Ana Torre
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A vida sexual não depende apenas de hormonas ou de atração física. O desejo e o prazer nascem também da forma como nos sentimos emocionalmente ligados com quem partilhamos a intimidade. A conexão emocional é um dos pilares da sexualidade saudável e está diretamente associada à líbido, ao prazer e à satisfação no relacionamento.
Neste artigo, exploramos como essa ligação influencia o desejo sexual, por que motivo é tão relevante em diferentes fases da vida e de que forma pode ser fortalecida.
Como a conexão emocional influencia a líbido e o desejo sexual?
O desejo sexual não é apenas espontâneo, muitas vezes é responsivo, ou seja, surge quando nos sentimos acarinhados, vistos e em sintonia com o outro.
Estes pilares constroem um ambiente de segurança psicológica, onde a vulnerabilidade sexual se torna possível. Quando um casal se sente verdadeiramente visto e compreendido, a disposição para a exploração e entrega na intimidade aumenta, pois o medo da rejeição ou do julgamento diminui consideravelmente, fomentando um desejo mais autêntico e livre.
Quando existe ligação emocional:
- Liberta-se ocitocina, a chamada “hormona do amor”, que reforça a ligação afetiva;
- O corpo relaxa, facilitando a excitação e a resposta sexual;
- Aumenta a disposição para experimentar e explorar novas formas de prazer.
Estudos mostram que casais emocionalmente conectados reportam níveis mais altos de satisfação sexual.
Segundo uma pesquisa publicada no Journal of Sex Research (2021), 82% dos casais que sentiam forte conexão emocional também relatavam alto desejo sexual.
Além disso, para mulheres na menopausa, quando fatores hormonais têm maior impacto no desejo, o suporte emocional do parceiro(a) torna-se ainda mais relevante para manter a qualidade da vida sexual.
Estratégias práticas para aumentar a conexão emocional e o desejo sexual
Quando a conexão emocional falha, surgem sentimentos de rejeição, insegurança e frustração. Isso pode levar à diminuição do desejo sexual, dificuldades na comunicação íntima e até problemas como disfunção erétil ou dor durante o sexo.
Se um dos parceiros se sente incompreendido, ou negligenciado emocionalmente, é provável que se retraia sexualmente. Essa retração pode ser mal interpretada pelo outro, gerando um ciclo de frustração e afastamento que compromete ainda mais a intimidade e a vontade de procurar soluções.
De que forma é possível aumentar a conexão emocional e o desejo?
Comunicares e conversares abertamente sobre desejos, fantasias, inseguranças e necessidades cria um espaço seguro no relacionamento. Os próprios estudos revelam que a existência de uma boa comunicação sexual entre os casais impacta positivamente a satisfação no relacionamento.
É importante falares sobre o que te agrada ou incomoda na intimidade, sem tabus. Isto pode começar com perguntas abertas e não acusatórias, como: “o que te faria sentir mais conectado(a) ultimamente?” ou “existe algo novo que gostarias de explorar?”. A chave é criar um ambiente onde ambos se sintam seguros para partilhar, sem medo de críticas ou incompreensão.
Isto inclui a comunicação não verbal, a escuta ativa e a validação dos sentimentos do parceiro. Criar um 'vocabulário sexual' partilhado, onde ambos se sentem à vontade para expressar desejos, limites e até fantasias, constrói uma base de confiança que se reflete diretamente na espontaneidade e na profundidade do desejo.
Além disso, é importante:
- criar momentos de qualidade a dois: Dedicar tempo exclusivo para o casal com pequenos rituais como caminhar, partilhar hobbies, priorizando tempo de intimidade sem distrações.
- explorar intimidade para além da penetração: massagens, carícias, beijos prolongados.
- experimentar novidades: introduzir brinquedos íntimos, acessórios ou jogos podem trazer diversão e curiosidade aos momentos de intimidade.
Quando procurar ajuda Médica?
Nem sempre uma dificuldade sexual significa um problema clínico. O desejo e a intimidade variam naturalmente ao longo da vida, mas há fases em que estas mudanças podem ser mais evidentes.
Por exemplo, durante a gravidez, as flutuações hormonais e as alterações físicas podem aumentar ou diminuir a líbido, enquanto no pós-parto o cansaço, as exigências da maternidade e a recuperação física tendem a afetar o desejo sexual.
Já na menopausa, a diminuição dos níveis de estrogénio pode impactar o prazer, a lubrificação e a frequência das relações sexuais. Nestas etapas, compreender o que é esperado e procurar apoio especializado pode ser fundamental, principalmente se existir:
- queda persistente do desejo sexual (que dura vários meses e causa frustração ou sofrimento no casal).
- dor nas relações sexuais (ex.: secura vaginal, vaginismo, dispareunia).
- dificuldade em atingir excitação ou orgasmo, de forma repetida.
- diferenças de desejo significativas no casal, que geram tensão ou afastamento.
- impacto de saúde mental (ansiedade, depressão, trauma, stress) a interferir na vida íntima.
- efeitos de medicamentos (como antidepressivos) que reduzem libido ou prazer.
- problemas físicos persistentes (como disfunção erétil ou ejaculação precoce).
O papel da Terapia Sexual
Procurar ajuda não é sinal de fraqueza, mas de maturidade e compromisso com o bem-estar do casal. Muitas vezes, pequenas mudanças comportamentais fazem grande diferença no desejo e na intimidade e a terapia sexual oferece estratégias práticas para melhorar a comunicação, reduzir ansiedade de desempenho e explorar novas formas de prazer.
FAQ – Perguntas Frequentes sobre Desejo Sexual
É normal ter fases de menor desejo sexual?
Sim! O desejo sexual não é estático, ele varia ao longo da vida e até dentro do mesmo ciclo menstrual. Pode ser influenciado por hormonas, stress, cansaço, fase da vida (como pós-parto ou menopausa), bem-estar emocional ou até pela qualidade da relação. Oscilações pontuais são naturais e não significam necessariamente um problema. Só merecem atenção se forem persistentes, acompanhadas de sofrimento ou impacto na vida íntima.
Como saber se devo procurar terapia sexual?
Se as dificuldades em manter desejo, excitação ou prazer se prolongarem por mais de seis meses, ou se estiverem a afetar a autoestima, o bem-estar emocional ou a relação, é aconselhável procurar ajuda especializada. Um/uma terapeuta sexual ou médico/a pode ajudar a identificar se a causa é física, emocional ou relacional e propor estratégias adequadas. Também vale procurar apoio mais cedo se houver dor durante as relações, diferenças de desejo muito marcadas no casal ou impacto da ansiedade/depressão na vida sexual.
Lubrificantes e suplementos ajudam na libido?
Sim, desde que usados de forma adequada e orientada para a necessidade de cada pessoa. Lubrificantes: reduzem a fricção, previnem dor e facilitam a excitação, especialmente em situações de secura vaginal (frequente no pós-parto, na amamentação ou na menopausa). Suplementos Alimentares: alguns nutrientes (como vitamina D, zinco, magnésio) podem apoiar energia, equilíbrio hormonal e bem-estar sexual.
É importante lembrar: não substituem hábitos saudáveis nem resolvem todos os problemas, mas podem ser um complemento útil. Aconselhamento profissional é fundamental para garantir segurança e eficácia