Revisão Científica: Dra. Ana Torre
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O orgasmo feminino é um dos fenómenos mais estudados na sexualidade humana, mas continua a ser alvo de desinformação. Separar factos de mitos é fundamental para promover uma vivência sexual saudável. Neste artigo, apresentamos os principais equívocos associados ao orgasmo, bem como os elementos que explicam a diversidade das experiências.
O que é o orgasmo feminino e por que importa falar sobre isto?
O orgasmo é a fase mais intensa da resposta sexual, em que o corpo e o cérebro atingem o ponto máximo de prazer. A nível físico, manifesta-se mediante contrações involuntárias dos músculos da região pélvica e de uma sensação de descarga de tensão acumulada. No cérebro, há libertação de substâncias como a dopamina, a oxitocina e as endorfinas, responsáveis por sensações de bem-estar e relaxamento.
Apesar dos mecanismos fisiológicos serem, em geral, semelhantes entre os diferentes corpos, a vivência do orgasmo pode variar bastante de pessoa para pessoa, sendo influenciada por fatores biológicos, hormonais e também emocionais.
Com tantas nuances, o orgasmo ainda é rodeado de mitos. Por isso, chegou a altura de descomplicar. Abaixo, esclarecemos as principais questões à volta deste tema.
Homens e mulheres experienciam o orgasmo da mesma forma?
Mito. Embora a resposta fisiológica tenha semelhanças, como as contrações musculares ou a ativação de áreas específicas do cérebro, o tempo até atingir o orgasmo, a forma como é desencadeado e a sua intensidade podem variar significativamente entre os sexos e indivíduos.
Os estudos indicam que os homens atingem o orgasmo com maior regularidade, durante a relação sexual — em média, até 95% das vezes — enquanto entre as mulheres essa percentagem desce para cerca de 65% (The Journal of Sexual Medicine | Oxford Academic). No entanto, a experiência individual é influenciada por diversos fatores hormonais, psicológicos e sociais.
Todas as mulheres conseguem atingir o orgasmo apenas com penetração?
Mito. A maioria das mulheres necessita de estímulo direto ou indireto do clitóris, para atingir o orgasmo. A ideia de que a penetração por si só deve ser suficiente é um mito persistente, que pode gerar frustração ou culpa.
A ciência é clara: o orgasmo feminino está profundamente ligado à estimulação do clitóris, órgão altamente sensível e central para o prazer sexual feminino.
O orgasmo tem benefícios para a saúde?
Verdade. Além do prazer, o orgasmo liberta hormonas que reduzem o stress, melhoram o humor, reforçam o sistema imunitário e favorecem o sono. Nas mulheres, pode ainda melhorar a circulação pélvica; nos homens, alguns estudos sugerem que a ejaculação frequente pode ter impacto positivo na saúde da próstata.
O orgasmo feminino é mais “complexo” do que o masculino?
Verdade, em parte. O orgasmo feminino, tal como o masculino, resulta de mecanismos neurológicos e fisiológicos semelhantes. No entanto, nas mulheres, existem múltiplas vias de estimulação, capazes de desencadear essa resposta, incluindo o clitóris, a vagina, o ponto G (área erógena localizada na parede anterior da vagina) e até os mamilos.
Essa variedade de estímulos possíveis torna o orgasmo feminino uma experiência mais diversa e subjetiva, mas não necessariamente mais difícil de alcançar.
Uma mulher não consegue atingir orgasmos múltiplos?
Mito. Algumas mulheres podem experienciar orgasmos múltiplos em sequência, sem precisar de um período refratário - tempo que o corpo leva para se recuperar após a excitação -, enquanto os homens geralmente precisam de uma pausa maior entre as ejaculações. No entanto, nem todas as mulheres conseguem ou têm esta predisposição, o que é completamente normal. Cada corpo responde de forma diferente, dependendo do estímulo sexual e do contexto.
O mais importante é respeitar o ritmo e apreciar a experiência sem pressa ou comparações.
A masturbação feminina é uma prática normal e saudável?
Verdade. A masturbação feminina é uma prática absolutamente normal e saudável. Ajuda-te não só a conheceres melhor o teu corpo, mas também a reduzir o stress, a melhorar a qualidade do sono e a promover o bem-estar geral.
É um momento exclusivamente teu, sem pressões externas, onde podes explorar livremente o que realmente te dá prazer.
Além dos benefícios emocionais, a masturbação contribui para o equilíbrio hormonal e pode ajudar a aliviar cólicas menstruais, melhorar a circulação sanguínea e até reforçar a tua autoestima. Ao conheceres melhor o teu corpo, aumentas também a confiança nas tuas relações sexuais.
Lembra-te: a masturbação não tem regras, cada pessoa é única. O mais importante é explorar o que te faz sentir bem, sem culpa e sem tabus. Masturbação é autocuidado.
Quando procurar ajuda, se não consegues atingir o orgasmo?
Se a dificuldade é frequente e causa sofrimento, pode tratar-se de anorgasmia. As causas vão desde fatores psicológicos (ansiedade, historial de trauma, bloqueios emocionais) a fatores fisiológicos (alterações hormonais, doenças crónicas, certos medicamentos).
Nestes casos, procurar apoio Médico especializado é fundamental.
FAQ - Perguntas frequentes sobre o orgasmo feminino
Como posso saber se tive um orgasmo?
O orgasmo costuma manifestar-se mediante uma combinação de sensações físicas e emocionais: calor, formigueiro, contrações na vagina ou no útero, aumento da frequência cardíaca, sensibilidade na área genital e nos seios e uma sensação de prazer intenso, seguida de relaxamento. Ainda assim, é importante lembrar que nem todos os orgasmos são iguais: podem ser mais curtos, longos, intensos ou suaves, sendo que algumas mulheres podem demorar a reconhecer a sensação como um orgasmo, especialmente nas primeiras experiências sexuais, ou durante mudanças hormonais, como na gravidez e no pós-parto.
É normal não conseguir atingir o orgasmo sempre?
Sim. O prazer não deve ser entendido como uma obrigação. O orgasmo é uma resposta fisiológica que pode variar consoante o contexto físico, emocional e relacional. Fatores como cansaço, stress, medicação ou simplesmente a fase do ciclo menstrual podem influenciar a resposta sexual. O mais importante é estares confortável com o teu corpo e a tua experiência. Se sentires frustração ou desconforto persistente, podes procurar apoio médico ou de um sexólogo para explorar as causas.
Os lubrificantes ajudam mesmo?
Sim. Os lubrificantes são aliados importantes, sobretudo se houver secura vaginal ou desconforto durante a relação. Reduzem a fricção, aumentam a sensação de prazer e ajudam a prevenir pequenas lesões da mucosa. Para começar, recomenda-se o uso de lubrificantes à base de água, por serem compatíveis com preservativos e mais fáceis de remover.
O orgasmo tem benefícios para a saúde?
Tem e são vários. Durante o orgasmo, o corpo liberta hormonas como oxitocina, dopamina e endorfinas, que promovem relaxamento e bem-estar. Isto traduz-se em benefícios como:
- redução do stress e da ansiedade;
- melhoria do humor;
- alívio de dores menstruais ou dores de cabeça, graças ao efeito analgésico das endorfinas;
- melhoria da circulação pélvica e da saúde do pavimento pélvico;
- contribuição para um sono mais reparador;
- reforço da ligação emocional, quando partilhado com um parceiro/a, através da libertação de oxitocina.
A masturbação é saudável?
Sim, a masturbação é natural, saudável e uma ferramenta importante de autoconhecimento sexual. Ajuda a perceber quais os estímulos e zonas que proporcionam mais prazer, o que pode melhorar a vida sexual a solo ou em casal.
Por que é que algumas mulheres têm dificuldade em atingir o orgasmo?
Os estudos mostram que cerca de 50% das mulheres têm dificuldades em atingir o orgasmo em algum momento da vida. As causas mais comuns incluem stress, falta de autoconhecimento, ansiedade, baixa autoestima ou simplesmente não conhecer o que funciona para o próprio corpo. Investir em autoconhecimento e explorar diferentes tipos de estímulo ou até procurar apoio especializado quando necessário, ajuda.
Quais são os sinais de um orgasmo?
Não existe uma única forma “certa” de sentir um orgasmo. Algumas mulheres vivem-no de forma mais intensa, outras de forma mais suave e todas as variações são normais. No entanto, durante o orgasmo, é normal sentir uma onda de excitação que culmina em libertação intensa, acompanhada por contrações musculares involuntárias na zona pélvica, em intervalos rápidos; aumento da frequência cardíaca e respiratória; maior sensibilidade em zonas erógenas; sensação de calor ou formigueiro pelo corpo.