Revisão Científica: Dra. Ana Torre
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A líbido, ou desejo sexual, resulta do equilíbrio entre hormonas, corpo e contexto emocional. Diversos medicamentos podem alterar este equilíbrio, levando a aumento, diminuição ou flutuações do desejo. Nem sempre os efeitos são falados abertamente, mas compreender esta relação é essencial para reconhecer sinais, dialogar com profissionais de saúde e encontrar soluções.
Neste artigo, exploramos os principais grupos de fármacos que podem afetar a líbido, explicamos os mecanismos envolvidos e partilhamos quando procurar ajuda médica.
Antidepressivos reduzem o desejo sexual?
Os antidepressivos, em especial os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), são conhecidos por reduzirem a líbido, dificultarem a lubrificação e atrasarem o orgasmo. Estima-se que até 70% das pessoas em uso de ISRS experienciem algum impacto sexual.
Mas atenção: nem todos os antidepressivos têm este efeito. Algumas opções têm menos impacto na função sexual. É fundamental não interromper o medicamento por conta própria. Discute sempre com o médico alternativas e ajustes.
Além disso, a depressão em si já pode reduzir o interesse sexual. Uma abordagem integrada, que pode incluir terapia sexual, acompanhamento psicológico e autocuidado, faz toda a diferença.
Métodos contracetivos hormonais: quais os impactos na sexualidade?
Além da pílula, outros métodos contracetivos hormonais também podem influenciar a líbido. A forma como cada organismo reage varia, mas há alguns efeitos comuns a considerar:
- Anel Vaginal: liberta hormonas localmente, podendo ser mais confortável para quem sente sensibilidade aos efeitos da pílula.
- Implante Contracetivo: colocado no braço, com duração de até 3 anos. Algumas utilizadoras referem diminuição do desejo sexual e alterações do ciclo menstrual.
- Injeção Anticoncecional: prática e de aplicação trimestral, mas pode causar oscilações hormonais mais marcadas, com relatos de aumento de peso, alterações de humor e diminuição da líbido.
- DIU Hormonal: cada vez mais usado em Portugal. Tem ação localizada, com menor impacto sistémico, mas algumas mulheres podem ter redução do desejo sexual, nos primeiros meses após colocação. Outras, pelo contrário, relatam aumento da líbido devido à diminuição do desconforto menstrual.
Cada corpo responde de forma única. Se um método não está a resultar bem para ti, procura aconselhamento médico para explorar alternativas que respeitem o teu bem-estar e a tua sexualidade.
Como é que os anticoncecionais hormonais afetam a líbido?
- Pílula Combinada: Segundo a Sociedade Portuguesa de Ginecologia, cerca de 15% a 20% das mulheres têm queixas de líbido diminuída associada à pílula. Nem todas sentem este efeito: algumas, beneficiam da regulação hormonal e sentem maior estabilidade do desejo.
- Minipílula (progesterona apenas): pode alterar os níveis de androgénios e a sensibilidade dos recetores hormonais e, por isso, causar variações no desejo sexual. Em algumas mulheres, causa redução da lubrificação vaginal e da excitação, mas noutras não tem impacto relevante. A resposta depende da sensibilidade individual ao progestativo utilizado.
- Anel, Adesivo e Injetáveis: partilham efeitos semelhantes aos da pílula.
- DIU Hormonal: podem ocorrer flutuações do desejo, sobretudo nos primeiros meses após a colocação, em organismos mais sensíveis ao progestativo, mas o impacto na líbido é geralmente reduzido.
Se estás a sentir alterações, conversa com o teu ginecologista.
DIU hormonal: vantagens, desvantagens e influência na líbido
O DIU hormonal é uma opção cada vez mais popular em Portugal. Tem como vantagens a longa duração (até 5 anos), baixa manutenção e menor impacto sistémico. Algumas mulheres até relatam aumento da líbido por reduzir o desconforto menstrual.
No entanto, cerca de 25% das utilizadoras referem diminuição do desejo sexual ou secura vaginal, nos primeiros meses, após a colocação. É importante dar tempo ao corpo para se adaptar e manter o diálogo com o médico.
Quando procurar ajuda Médica ou Terapia Sexual?
- Notas uma quebra persistente da líbido após iniciar um medicamento.
- A alteração causa sofrimento pessoal ou impacto na relação.
- Os efeitos secundários incluem dor, secura vaginal ou dificuldade em atingir orgasmo.
Um médico pode rever a medicação, ajustar doses ou propor alternativas terapêuticas. A terapia sexual é indicada não apenas para disfunções, mas também para melhorar a comunicação íntima e explorar formas de prazer. Lembra-te: cuidar da saúde sexual também é cuidar da saúde global.
FAQ – Perguntas frequentes sobre líbido e medicamentos
A pílula anticoncecional diminui sempre a líbido?
Não. O impacto da pílula na líbido é variável e individual. Algumas mulheres podem sentir diminuição do desejo, enquanto outras não apresentam alterações significativas. O tipo de formulação e a sensibilidade individual influenciam muito a resposta.
Os antidepressivos afetam a líbido de homens e mulheres?
Em homens e mulheres, alguns antidepressivos, especialmente os inibidores seletivos da serotonina (ISRS), podem diminuir o desejo sexual, tornar o orgasmo mais demorado ou dificultar a excitação.
É seguro interromper a pílula ou antidepressivo por conta própria para melhorar a líbido?
Não. A interrupção súbita pode ter consequências: no caso da pílula, risco de gravidez não planeada e desregulação do ciclo; nos antidepressivos, risco de síndrome de descontinuação (ansiedade, insónia, tonturas) e agravamento da depressão ou ansiedade. Qualquer alteração deve ser feita em consulta médica, onde podem ser avaliadas alternativas